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A concretização da idéia

O primeiro Presidente da Federação das Indústrias do Estado do Ceará nascera em Fortaleza em 5 de abril de 1910, filho do industrial Antônio Diogo de Siqueira e de dona Elisa Viana de Siqueira, senhora pertencente a ilustre família cearense, iniciada com o português Luís Antônio da Silva Viana, que exerceu elevadas funções fazendárias ao tempo da Capitania do Ceará-Grande.

Realizou os estudos primários e iniciou os preparatórios no Rio de Janeiro, indo concluí-los no Rio de Janeiro, mas preferiu ingressar na Escola Politécnica da Bahia, na qual concluiu o curso e obteve o grau em Engenharia Civil, com boas notas, no final do ano de 1932, regressando imediatamente ao Ceará, apesar das ofertas de emprego naquele e em outros Estados.

Falecera havia pouco tempo o seu pai, deixando um complexo de empresas, em cuja administração devia colaborar com os irmãos, porém o Estado atravessava uma fase de prosperidade, não obstante a seca do referido ano, e ele decidiu lançar-se aos Empreendimentos imobiliários, praticamente inovando no ramo, como um dos pioneiros da técnica de construção com cimento, adotada, antes, pela Inspetoria Federal de Obras Contras as Secas, que chegara a instalar uma pequena fábrica do produto, fechada dentro de pouco tempo em conseqüência do retraimento do Governo Federal quanto aos serviços daquele órgão no Nordeste.

Note-se que, no final do decênio anterior (1921-1930), o prédio do Excelsior Hotel, em Fortaleza, fora construído em alvenaria, dada a escassez de cimento no Brasil, onde havia apenas uma fábrica, a da Companhia Brasileira de Cimento Portland, de Perus, no Estado de São Paulo, inaugurada em 1926. Embora se registrasse, então, uma importação bem próxima das quatrocentas mil toneladas, o consumo era restrito, quase, às maiores cidades, em cujo elenco não se incluía a Capital cearense, com muitas de suas construções residenciais ainda de taipa, até mesmo residências de famílias da classe média, que tinha somente as paredes da frente levantadas de tijolos, para melhor aparência.

Foi o Engenheiro Waldyr Diogo de Siqueira um dos responsáveis, por conseguinte, pela modernização do aspecto urbanístico de Fortaleza, no tocante às construções, adquirindo nomeada por algumas, bastante arrojadas para o tempo, como o Edifício Diogo, justamente considerado um dos melhores do norte do Brasil e que chamou a atenção do empresário Luís Severiano Ribeiro, cearense residente no Rio de Janeiro, e levou ao funcionamento, no térreo, de uma casa de espetáculos cinematográficos, o Cine Diogo, inaugurada em 7 de setembro de 1940, com quase meio século em referido local, em boas condições de atendimento ao público.

Construiu vários outros prédios importantes de Fortaleza, notadamente o da Faculdade de Direito do Ceará, apreciado pela beleza da forma e pela solidez, muito depois insuficiente para as atividades do dito estabelecimento pioneiro do ensino universitário no Ceará, tendo sido então construído um anexo, em desacordo com a arquitetura do principal.

Em 1939, foi escolhido para dirigir a então Escola Industrial de Fortaleza, sem jamais ter ambicionado um cargo público, mas considerou do seu dever aceitar o convite, para tentar a reabilitação do estabelecimento, que vinha merecendo pouca atenção governamental, sobretudo impedido de expandir suas atividades por falta de instalações próprias e condignas e sem poder exercer o papel de impulsionador do nível técnico da produção artesanal e industrial cearense.

Conquanto escolhesse a construção civil como principal atividade profissional, dedicou-se, depois de algum tempo, também às indústrias de extração de óleos vegetais e de fiação e tecelagem, firmando-se entre os dirigentes industriais do Ceará, embora, a principio, participando em lugar secundário das associações classistas do ramo, por não querer prejudicar o seu desempenho no Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura - CREA, cuja presidência estava exercendo com dedicação e desprendimento.

Na verdade, tinha um espírito associativo desenvolvido, voltado, igualmente, para as atividades recreativas e desportivas, devendo-se-lhe, em grande parte, o prestígio que cercou o "Maguari Esporte Clube", assegurado tanto pela participação no campeonato de futebol de Fortaleza como pela ordem e vibração das festas de fim de semana, ou de aniversário da agremiação, freqüentada pela classe média e com um caráter predominantemente familiar, pais e filhos convivendo em horas agradáveis de lazer na bonita sede da rua Barão do Rio Branco (bairro do Benfica).

Pela riqueza, constituída por herança paterna e aumentada pelo trabalho, as portas dos clubes aristocráticos de Fortaleza lhe estavam abertas, também os freqüentando, e integrando a diretoria do Ideal Clube, porém a sua conduta foi sempre isenta de preconceitos, como se orientada por uma filosofia de vida igualitarista e solidarística, inspirada no exemplo do seu benemérito pai Antônio Diogo de Siqueira.

Foram as preocupações do Engenheiro Waldyr Diogo de Siqueira com os operários de suas fábricas e dos trabalhadores da indústria cearense em geral que o levaram a empenhar-se, em 1950, na fundação da entidade patronal, conforme esclareceu um de seus sucessores na presidência dessa, o Engenheiro Francisco José Andrade Silveira, no discurso pronunciado em 21 de março de 1975, ao ser comemorado o jubileu (25º aniversário do referido evento). Após mencionar o surgimento da Confederação Nacional da Indústria, em 1943, e à do Serviço Social da Indústria - SESI, disse: que, no Ceará, esse órgão estava, de início, subordinado àquela entidade, sediada no Rio de Janeiro, e comentou, segundo a publicação respectiva, em Missão Cumprida, Edição FIEC-SENAI-SESI-IEL - 1977, pág. 30:

Assim, era um imperativo do patronato cearense assumir as responsabilidades que a Lei, por antecipação, lhe outorgava. Foi, pois, despertada a consciência de nossa liderança industrial para assumir os encargos que a legislação federal dera às entidades sindicais de segundo grau, na grande obra da criação de escolas de aprendizagem para industriários e do bem-estar social dos mesmos trabalhadores, concorrendo para a melhoria do padrão geral de vida, no País, e, bem assim, para o aperfeiçoamento moral e cívico e o desenvolvimento do espírito de harmonia entre as classes sociais.

A Federação das Indústrias do Estado do Ceará surgiu com esse objetivo prioritário, já que, contribuindo a indústria cearense para a manutenção do SENAI e do SESI, cumpria aos seus legítimos representantes dirigir aquelas entidades, o que somente poderia ocorrer com a organização de sua entidade sindical representativa, junto à Confederação Nacional da Indústria.

Deduz-se, do esclarecimento de pessoa autorizada a prestá-lo, e aqui reproduzido, que a iniciativa do Engenheiro Waldyr Diogo de Siqueira, de organizar a Federação das Indústrias do Estado do Ceará, deveu-se, antes de mais nada, à intenção de secundar o papel desempenhado por empresários de São Paulo, de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul, principalmente, com vistas a elevar o nível profissional dos trabalhadores das fábricas e possibilitar melhores condições de vida a esses e suas famílias, intensificando as ações nesse sentido já então praticadas em Fortaleza através de Delegacias Regionais, sujeitas a decisões nem sempre em correspondência com a realidade local.

A partir de 1952, passou o Engenheiro Waldyr Diogo de Siqueira a dirigir, como atribuição do Presidente da Federação das Indústrias do Estado do Ceará, os Departamentos Regionais do SESI e do SENAI, tendo mantido, como delegado de sua confiança, à frente do último, o Engenheiro Antônio Urbano de Almeida, como diretor, cargo que antes já exercia, enquanto, para o segundo, nomeou Superintendente, na pessoa do Dr. Hélio ldeburque Carneiro Leal, administrador de experiência comprovada em vários cargos da administração pública estadual, notadamente o de Secretário de Polícia e Segurança Pública.

Na presidência da Federação teve, como diretrizes principais, o desenvolvimento das atividades dos referidos órgãos, a sindicalização em todos os ramos da indústria cearense e a integração com as entidades similares, através da Confederação Nacional da Indústria, com vistas ao fortalecimento do setor da economia brasileira nela representado, que, até então, fora pouca influente, em prejuízo, muitas vezes, dos interesses ligados à atividade fabril, sobretudo nos Estados mediocremente industrializados.

Se bem que o SESI fosse, já, um órgão dos mais conceituados de Fortaleza, na presidência do Engenheiro Waldyr Diogo de Siqueira ele diversificou e intensificou suas atividades, mediante a criação de novos Núcleos, na Capital e no interior, de modo a justificar, perante o empresário, o pagamento da contribuição, pois alguns se recusavam a fazê-lo alegando não estarem sendo atendidos os seus operários e familiares desses.

Naquele ano de 1952, o SESI do Ceará tinha uma inscrição de cerca de 6.600 trabalhadores na indústria e em atividades assemelhadas, atingindo a uma parcela de 30.000 pessoas da população de todo o Estado, números que foram elevado para 40.000 beneficiários diretos e 110 mil indiretos (dependentes, em geral filhos menores), aproximadamente.

A reorganização, atendendo às modalidades do Serviço Social, a construção de uma sede com as instalações necessárias para o bom desempenho do Departamento, novas atividades, como as relacionadas com a higiene e a segurança do trabalho e a colaboração com outras entidades de natureza assistencial a fim de assegurar melhor aproveitamento das disponibilidades, foram algumas das diretrizes fixadas para o Departamento Regional do SESI, logo apontado como um dos mais eficientes dentre os congêneres de todo o Brasil.

Com esse trabalho, o Engenheiro Waldyr Diogo de Siqueira pleiteou com êxito maior participação do órgão cearense na divisão procedida pelo Departamento Nacional dos recursos provenientes da parcela das contribuições que os Regionais lhe destinavam, deveras elevada, sobretudo pelo superávit registrado em São Paulo, sendo, portanto, decisiva a importância da indústria paulista para a difusão dos benefícios do SESI aos operários de todo o País.

Ao mesmo tempo, no entanto, a Federação das Indústrias desenvolvia o referido trabalho de sindicalização dos empresários de ramos de atividades que ainda não estavam organizados, e uma campanha de esclarecimento sobre as finalidades do SENAI e do SESI, com vistas a obter a regularização no tocante aos descontos sobre a importância total das folhas de salários e ao recolhimento por intermédio do Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários - I.A.P.I., com o qual foi mantido contato permanente, para a ativação, ou agilização, dessa providência, e solução de numerosos casos de empresas que estavam recolhendo suas contribuições a favor de outros órgãos, erroneamente.

A secção sindical da Federação, ao tempo da presidência do Engenheiro Waldyr Diogo de Siqueira, foi, por conseguinte, muito atuante, entregue à experiência de Raimundo Cleto Soares Bulcão, funcionário categorizado da Delegacia Regional do então Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, e orientada, quando necessário, pelo competente advogado trabalhista Dr. Lauro Maciel Severiano, contando, ainda, com o Dr. José do Nascimento que fora o Delegado Regional do SESI e passara a prestar os seu serviços na assessoria jurídica da entidade em referência.

A estrutura dessa, era aliás, muito reduzida àquele tempo constando do Gabinete do Presidente, de uma Secretaria e da referida secção sindical, funcionando em algumas salas do Edifício Jangada, onde também tinham as suas sedes quase todos os Sindicatos patronais da Indústria, facilitando a coordenação das atividades respectivas, através de reuniões freqüentes, e aonde iam para os despachos o Diretor do SENAI e o superintendente do SESI, cujos Conselhos Regionais igualmente funcionavam na dita sede.

O Presidente da Federação, no entanto, comparecia freqüentemente aos órgãos que lhe estavam subordinados, para verificar o andamento das atividades respectivas, adotar providências e acompanhar autoridades em visita, prestigiar realizações, etc procedimento esse que os seus sucessores continuariam adotando, atentos, porém, para a conveniência de integrar todas as dependências da administração em um prédio, para atender à unidade de direção e propiciar maior eficiência a todos os serviços.

Em 1962, convencido de que a crise econômica e financeira do Brasil exigia a sua presença constante na empresa construtora e em outras atividades particulares, decidiu não mais concorrer à presidência da Federação, na qual deixou um lastro indestrutível de seriedade e dedicação, jamais tendo auferido qualquer vantagem do cargo, aliás sem remuneração, ficando indelével, também a simplicidade, estereotipada, por assim dizer, em seu comportamento, sempre cordial com os auxiliares, a quem recebia em casa com toda a deferência.

Em 17 de janeiro de 1970, preparava-se para ir ao escritório da firma de engenharia de que era titular, como diariamente fazia, apesar de se tratar de um sábado, quando tombou, fulminado por um colapso cardíaco, inesperadamente, embora não se ignorasse as condições precárias de sua saúde, prolongada pela atividade metódica e consciência tranqüila de jamais haver praticado o mal.

Fora extremamente dedicado â família, tendo deixado viúva dona Norma Libânia Ferreira Diogo, uma filha, dona Sílvia Diogo de Siqueira Holanda, casada com o médico dr. João Elísio de Holanda, e os filhos Antônio Eduardo Diogo de Siqueira e Waldyr Diogo de Siqueira Filho, que dariam continuidade à empresa paterna.

Tendo uma certa dificuldade de emitir alguns sons, o primeiro presidente da Federação das Indústrias do Ceará evitou fazer discursos e suas múltiplas ocupações, tendentes sobretudo ao exercício do cálculo, não lhe deixaram tempo que lhe permitisse desenvolver por escrito as idéias sobre os assuntos econômicos, manifestadas, no entanto, em conversas, nas quais revelava constante preocupação com o trabalho produtivo, no agricultura, na pecuária e na mineração, sem o qual o desenvolvimento da indústria paralisaria, à, falta de matéria-prima, e, pior ainda, aumentaria o desemprego e as condições de vida de toda a população seriam agravadas, pela escassez de bens de consumo e o custo desses, e de tudo o mais, em alta desenfreada, caracterizando uma inflação incontrolável. Manifestou-se preocupado, igualmente, com o "desenvolvimentismo" do Presidente Juscelino Kubitschek, ponderando que o consumismo implicaria em agravar problemas, notadamente o dos combustíveis, devido ao inevitável aumento das importações dos derivados do petróleo, com efeito negativo na balança comercial, bem menos equilibrada do que até então, quando poucos podiam importar automóveis e, por isso, o consumo daqueles mantinha-se nos limites das possibilidades reais do povo brasileiro, em especial dos sacrifícios impostos aos trabalhadores de baixos salários e a outras pessoas menos aquinhoadas na distribuição da renda nacional.

Naquela conversação, em que o interlocutor foi, algumas vezes, quem faz este registro para a História, com a preocupação da fidelidade, em outras testemunha, o Engenheiro Waldyr Diogo de Siqueira condenava, com veemência, o chamado "comércio científico", por ser artificial e não poderem as vantagens ocasionais durar muito tempo, havendo o perigo de uma crise a médio prazo, de conseqüências desastrosas, não só para as empresas como para toda a economia.

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