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A RESISTÊNCIA vêzes. A essa altura já se contavam por mi-
lhões as pessoas que se socorriam do crédito ao
Assim nasceram as primeiras financeiras. consumidor nos Estados Unidos.
Nõo sem registrarem em sua história a resis-
téncia moralista de certa área de opinião ame-
ricana contra o crédito ao consumo, especial- Afirmam Ernest Bagart e Donald Kemme-
mente de "objetos de luxo", como considera- rer na "História Econômica do Povo America-
'Iam os automóveis. Alguns autores relatam nu", que o acontecimento mais espetacular e de
que a iilosoiio bcncér/o naquela época era con- maior alcance nos anais dos transportes e das
trária a dividas pessoais. Por mais importante manufaturas do século XX foi a ascensão da
que fôsse o motivo, o conselho era "economize indústria automobilistica, e Kent acrescenta:
dinheiro" e "evite fazer dividas". "sua elevaçãa o primeiro lugar dependeu do
financiamento no atacado e no varejo feito pe,
Ias componhias de financiamentos de vendas.
Outros achavam que o crédito ao consu- A contribuição dos bancos comerciais e de ou-
midor não só era arriscado, como capoz de tras instituições financeras até que a indústria
provocar "a corrupção dos individuos e con- automobilistca ainçsse su posção de liderança
trário à moral pública". A literatura ornerica- foi neg/igenciável".
na do primeiro quarto dêste século está cheia
de expressões moralistas' contra o crédito ao
consumo: "é prejudicial ao caráter por condu- Em 1900, o automóvel era reconhecida-
zir diretamente à servidão", diziam uns; leva mente de luxo: entre 1910, para cada 200 pes-
"a padrões de vida eminentemente falsos"; "é soas havia um carro; em 1920, existia um car-
um sinal da dissolução dos tradicionais hábi- ro pora cada grupo de 13 pessoas; antes de
tos de economia", atacavam outros, 7930 iá existia um automóvel para coda 6 ha-
bitantes nos Estados Unidos.
A EVOLUÇÃO EXIGIDA
Em 1925, cêrca de 64 % de todos os au-
Os fatos econômicos foram mais fortes
que os preconceitos, e as financiadoras de ven- tcrnóveis novos eram vendidos a prestações fi-
nanciadas
pelas "soles finance".
l'/l-1s os his-
das começaram a se forme r e se fortalecer no
toriadores ressaltam que "a çrande redução de
mercado americano, inicialmente financiando preços dos automóveis verificado entre
carros e depois a b a r c a n d o todo o mer- 1913 e
1926 dependeu,
em grande parte, do sistema
do de consumo a orestaçôes de outros bem; du- de prestações, pelo grande aumento das vendas
roveis,
e por ter permitido a produção em IJrande es-
cala".
Elas atenderam prontamente às crescen-
tes solicitações da indústria automobilistica
principolme:nte e vieram a se trapsiormar nas Mas, a contribuição das financeiras ao de-
componha. iinanciodoros de vendas. senvolvimento norte-americano não se restrin-
lJiu aos automóveis. De 1921 a 7929, o valor
A década de vinte conheceu o floresci- da produção de aparelhos e equipamentos de
mento dessas emprêsas nos Estados Unidos, ao rádio passou de US$ 12,9 milhões para US$ ..
mesmo tempo em que a indústria de outomo- 388,5 milhões, sendo que no caso de utilidades
veis saia do zero, no inicio do século, pora al- domésticas mais pesadas, o valor da produção
cançar o primeiro lugar na indústria norte-ame- evoluiu de US$ 88,3 milhões para US$ 269
ricana em 1923. milhõe«. Essa década testemunhou, nos EUA o
inicio da produção e distribuição de bens durá-
veís a milhões de fami/as. E seu efeito conti-
O número de componhias de financiamen-
to de vendas era calculado em mil no ano nuou depois da grande crise de 29, pois de
1922; em 1925 êsse número se elevara a 1926 a 1946, por exemplo, o número de lJela-
I 600. Como não havia estatistica correta, es- deiros elétricas domésticas subiu de 150 mil
tima-se que existiam a essa época "mais de para 21 rrubões I< 400 mil unidades,
mil" daquelas emprêsas.
"Não pode haver dúvida - dizem os do-
Um estudo feito junto às 573 maiores fi- cumentos históricos - de que a generalização
nanceiras em 1926 mostrou que seu volume do uso de tôdas essas coisas foi acelerado pe-
de financiamentos era de USS 3,3 bilhões apro- las vendas a crédito. Não fôss~m as compa-
ximadamente e elas operavam apenas 85 % do nhias financiadoras de vendas e tôdas essas
total. Entre 1924 e 1929, o ativo dessas com- coisas boas seriam produzidas em menor volu-
ponhias que operavam em escala nacional au- me; teriam um custo uriitário maior e teriam
mentou cinco vêzes, e o das emprêsas de âm- qualidade inferor à que hoje têm. ~ imposstve!
bito regional ou local elevou-se de umas três avoliar os beneficios em têrmos numéricos".
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