Núcleo de Economia

Informativo da Federação das Indústrias do Estado do Ceará • 20 de janeiro de 2017 • www.sfiec.org.br

O potencial de crescimento e os seus riscos

Nesta semana, o governo brasileiro anunciou o PIB potencial do país para os próximos dez anos: 3,8%. Ou seja, estima-se que teremos uma década para fazer a transição gradual entre a atual crise e um crescimento de quase 4% ao ano. Isso retrata, entre outras coisas, que a saída da recessão será bem mais lenta do que gostaríamos, e que teremos, portanto, uma difícil agenda pela frente. Nessa direção, espera-se um ajuste fiscal mais amplo do que o que temos observado, e uma queda mais acentuada dos juros, favorecendo o aumento do consumo e dos investimentos e, ainda, o menor comprometimento da renda das pessoas e das empresas com suas dívidas. Para tanto, são aguardadas as tão discutidas reformas – Previdência, trabalhista e tributária. A necessidade deste conjunto de ações é inquestionável, uma vez que somente assim poderemos impulsionar os reais motores do crescimento: os ganhos de produtividade.

Nesse sentido, bom sempre frisar que aumento permanente da produtividade só é alcançado via o desenvolvimento de inovações e que, para isso, avanços na educação do brasileiro são absolutamente imprescindíveis. Então, teremos que reduzir uma impactante distância: enquanto estudamos, em média, 7 anos, países como os EUA apresentam tempo médio de estudo igual a 13 anos. E, claro, se colocarmos os aspectos relacionados à qualidade do ensino, essa diferença de escolaridade será ainda mais expressiva. Necessitamos, também, aumentar o volume de investimento em pesquisa e desenvolvimento, tanto feito pelo setor público quanto pela iniciativa privada.

Além de todo esse nosso dever de casa, é preciso observar os cenários econômicos globais, dos quais somos muito dependentes. Com a mudança de comando na maior economia do mundo – toma posse nesta sexta-feira o republicano Donald Trump – há ao menos três aspectos que muito nos interessam: (i) a velocidade de aumento das taxas de juros americanas – se os juros subirem muito rapidamente, o Brasil também terá que acelerar suas reformas; (ii) o tipo de política comercial adotada – se protecionista, impondo altas tarifas e restrições às importações, notadamente de produtos naturais, nos quais temos alta competitividade, sofreremos fortes impactos e (iii) a condução da política internacional, especialmente com a China - se persistirem as pressões sobre saída de capital e desvalorização da moeda chinesa, os efeitos negativos ocorrerão também sobre os outros mercados emergentes, como o Brasil. Em resumo, precisamos torcer para que o novo presidente dos EUA seja bem menos radical do que o candidato Donald Trump.

Portanto, se por um lado é nítido que temos ótimas condições para sair da atual crise e crescer - mesmo que moderadamente - na próxima década, cumprindo uma agenda que já está sendo trabalhada, por outro é necessário gerenciar os principais riscos a essa perspectiva: ajuste fiscal restrito, instabilidade política e cenário externo desfavorável.