Núcleo de Economia

Informativo da Federação das Indústrias do Estado do Ceará • 11 de novembro de 2016 • www.sfiec.org.br

Endividamento: freio à retomada do crescimento

O nível atual de endividamento, tanto do setor público quanto do setor privado, é preocupante. Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), a dívida conjunta de empresas (exceto não-financeiras) e de consumidores representou 68,5% do PIB em 2015. Além do valor, impressiona também a trajetória recente dessa dívida: ela representava 41% do PIB em 2008. Ou seja, houve acréscimo de 28 pontos percentuais do PIB em 7 anos, dos quais a elevação de 11 pontos aconteceu apenas de 2013 a 2015. Foi um ritmo duas vezes maior do que o de outros países emergentes. De forma semelhante, a dívida das famílias, que hoje representa 43% da renda acumulada nos últimos 12 meses, era de apenas 18,4% em 2005.

O endividamento das empresas corporativas ocorreu pela tomada de empréstimos no exterior, influenciado pelo ambiente de juros baixos. Com a recessão, essas companhias viram suas dívidas crescendo, ao mesmo tempo em que o crédito ficava cada vez mais caro e escasso. O FMI estima que um volume próximo de US$ 51 bilhões esteja em empresas nas quais a geração de lucro é insuficiente para bancar o pagamento dos serviços das dívidas. O risco de aumento dos calotes, naturalmente, deve ser considerado. Obviamente, nesse cenário, as perspectivas de investimento não são positivas.

Do lado do setor público, o quadro não é diferente. A dívida bruta passou de 51,7% em 2013, para 70,7% do PIB em setembro deste ano, e pode chegar a 85% do PIB em 2018. Para agravar o quadro, observa-se aumento do endividamento das empresas do governo, sobretudo Eletrobras e Petrobras (teve prejuízo de R$ 16,5 bilhões no 3º trimestre de 2016, o terceiro maior de sua historia). Nessa direção, um questionamento importante é se as contas públicas irão permitir ao governo lidar com os efeitos impactantes de uma redução dos planos de expansão das empresas. É necessária, para tanto, uma política fiscal restritiva nos próximos anos, até que o País consiga estabilizar e, depois, reduzir sua dívida. Medidas como a PEC que limita os gastos e a reforma da previdência estão exatamente nessa linha.

A redução dos juros também será fundamental, e esse ciclo, que teve início em outubro, deverá continuar nos próximos meses – dada a grande ociosidade atual, há quem aposte na Selic (hoje em 14% ao ano) abaixo de dois dígitos antes do fim de 2017. Para tanto, é imprescindível que a inflação permaneça em queda.

Com avanços na gestão pública e esforço fiscal suficiente para controlar a inflação e permitir redução dos juros, abre-se a possibilidade de se atenuar o problema do endividamento (de consumidores, governo e empresas privadas), que se coloca como um importante entrave à nossa retomada econômica.