Núcleo de Economia

Informativo da Federação das Indústrias do Estado do Ceará • 04 de novembro de 2016 • www.sfiec.org.br

O risco Trump

Grande parte da atual crise brasileira pode ser explicada pelos nossos equívocos. Cometemos falhas graves na condução da política econômica, o que nos causou explosão da dívida pública e elevou o risco de se investir no País. Porém, também devemos atribuir parte de nossos problemas ao cenário externo. Ele, que nos foi tão favorável há poucos anos – mesmo que por um relativamente curto período -, teve uma reversão, com o desaquecimento do comércio internacional e a desvalorização de nossas commodities.

Dessa forma, é necessário seguir observando, com atenção, os rumos da economia global, pois eles podem simplificar ou dificultar nosso processo de retomada do crescimento, afinal, somos, ainda, um País que depende muito de financiamento externo. Por enquanto, as condições internacionais estão nos ajudando.

Primeiramente, é cada vez menos provável que os EUA tenham recessão, muito menos superaquecimento. Ou seja, o crescimento apenas moderado dos EUA está controlando os riscos aos investimentos e evitando que o FED (o banco central americano) eleve os juros – o que faria com que investidores migrassem de economias emergentes, como a nossa, para os Estados Unidos. Por sua vez, a China, depois de sofrer alguns riscos com o mercado imobiliário, está experimentando uma estabilidade, que deve se prolongar até 2017, o que também favorece mercados como o Brasil.

Contudo, há preocupações. É muito provável que o FED aumente um pouco os juros já em dezembro, o que causará alguma depreciação no Real e em outras moedas latino-americanas. Há riscos também por causa dos diversos problemas políticos e econômicos na Europa, os quais podem causar piora no ambiente financeiro, e provocar desvalorização dos ativos de mercados emergentes. E, ainda, existe risco sério com as eleições presidenciais nos EUA. Nesta semana, várias bolsas e moedas caíram após a divulgação de pesquisa eleitoral em que o republicano Donald Trump apareceu, pela primeira vez, à frente da democrata Hilary Clinton.

As razões para que a eleição de Trump seja uma ameaça à economia global são diversas e, sobre isso, faremos algumas reflexões. As propostas anunciadas pelo republicano indicam estímulos ao modelo de crescimento que se baseia em abastecer o mercado interno com produtos americanos. Haveria fortes restrições às importações. Há, ainda, pretensões de investimentos em infraestrutura que poderiam elevar o PIB no curto prazo, mas que potencializariam a dívida pública, favorecendo o aumento dos juros. Todos esses pontos afetariam de forma negativa os mercados emergentes, e complicações comerciais com a China poderiam agravar ainda mais a situação do comércio internacional.

Assim, com Trump eleito, e acontecendo concomitantemente uma valorização do dólar e uma elevação dos juros nos EUA, teríamos, nos mercados emergentes, desvalorização cambial e pressão inflacionária, além de uma redução dos investimentos estrangeiros. Haveria, assim, pouco espaço para redução dos juros nesses países. Especificamente para o Brasil, portanto, seria um quadro indesejável, especialmente nesse momento em que é necessário conduzir um complexo ajuste fiscal.

Devemos considerar, entretanto, que a chance de Trump ser eleito é menor do que a de sua adversária e, mesmo que vença as eleições, suas medidas podem não ter o apoio no Congresso – as pesquisas indicam maioria democrata no Senado. De qualquer forma, o risco de medidas protecionistas americanas causando instabilidade econômica global, deve ser considerado por todos.