Núcleo de Economia

Informativo da Federação das Indústrias do Estado do Ceará • 21 de outubro de 2016 • www.sfiec.org.br

Por que os juros não caíram mais?

Por decisão unânime, o Comitê de Política Monetária (COPOM) reduziu em 0,25 ponto percentual a taxa básica de juros (SELIC) – a taxa anual passou a ser, portanto, igual a 14%. Essa foi a primeira queda dos juros em quatro anos e, naturalmente, é uma demonstração de que estamos trilhando o caminho da retomada econômica.

Entretanto, alguns segmentos de mercado que esperavam uma maior diminuição nos juros – queda de 0,5 ponto percentual - viram um certo conservadorismo na decisão do Banco Central. Dessa forma, é necessário compreender porque a política monetária não foi mais flexível, a ponto de permitir uma diminuição maior da SELIC.

Segundo o COPOM, uma condição para a queda dos juros é a de que “os componentes do IPCA mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica retomem claramente uma trajetória de desinflação em velocidade adequada”.

Ou seja, a redução dos juros está condicionada à queda da inflação, notadamente a de serviços. Sobre isso, no primeiro semestre desse ano, a inflação de serviços passou de 8,2% para 7,1%, uma boa redução para um período tão curto. O problema foi que logo depois, ela parou de cair – chegou inclusive a subir para 7,5% em agosto e voltou aos 7,1% em setembro. Esse comportamento dos preços nos serviços está muito relacionado à legislação trabalhista e à indexação. Para ilustrar, vejamos um exemplo: um dono de restaurante fica impossibilitado de reduzir os preços de seus produtos porque teve que conceder aumento de salários aos funcionários e porque o aluguel do prédio foi reajustado por algum índice anual. Nesse caso, o item “despesas com alimentação fora de casa” seguirá impactando negativamente a inflação de serviços.

Outra condição para queda dos juros, segundo o COPOM é que “o ritmo de aprovação e implementação dos ajustes necessários na economia contribuam para uma dinâmica inflacionária compatível com a convergência da inflação para a meta”.

Nesse caso, o COPOM está deixando claro que é preciso executar os ajustes fiscais e, certamente se refere à PEC que limita os gastos públicos, bem como à reforma da previdência e ao programa de concessões e privatizações, dentre outras ações. Resumidamente, pode-se afirmar que a velocidade de redução dos juros dependerá do avanço no controle das contas do governo.

Por fim, o COPOM ainda citou fatores que favorecem e que desfavorecem a redução dos juros no momento.

Contribuem para a redução dos juros:

- Inflação está mais favorável no curto prazo

- A alta ociosidade da economia pode produzir desinflação maior do que a prevista

- O ajuste fiscal está avançando, com as aprovações das primeiras medidas

Dificultam a queda nos juros:

- A aprovação e implementação das medidas de ajuste fiscal exigem processos longos e com alta incerteza.

- O histórico de inflação alta e expectativas acima da meta dificultam a queda dos preços

- A convergência da inflação para a meta pode ser mais lenta, em função da interrupção de queda nos preços dos serviços.