Núcleo de Economia

Informativo da Federação das Indústrias do Estado do Ceará • 03 de junho de 2016 • www.sfiec.org.br

No caminho da austeridade

O IBGE divulgou que o PIB brasileiro recuou, em termos reais, 0,3% no primeiro trimestre deste ano. Essa retração ficou abaixo das projeções de mercado, e sinaliza que a crise econômica está perdendo força. Apesar disso, como muito bem observou Alberto Ramos, do banco de investimento Goldman Sachs, em termos per capita o PIB caiu mais desde 2012 do que durante todo o período de 1981 a 1992 – resultado que se agrava quando se leva em conta que a chamada “década perdida” foi marcada por altas taxas de inflação. Em resumo, estamos ainda passando pela pior recessão de nossa história, mas a retomada do crescimento já não parece tão distante.

Nessa direção, a produção industrial, também segundo o IBGE, teve alta de 0,1% de março para abril, surpreendendo as projeções que indicavam queda em torno de 0,8%. Com a demanda interna ainda muito aquém do desejado, foi o setor externo o maior responsável por essa estabilidade na indústria – o segmento extrativo também causou surpresa ao crescer 1,3% no mesmo período. Esses resultados aparecem em um momento importante, reforçando a ideia de aumento da confiança na economia nacional, especialmente após as primeiras medidas do governo Temer.

Sobre isso, os encaminhamentos para a reforma da previdência, a designação de um novo papel para a Petrobras na exploração do pré-sal, bem como as mudanças na gestão dos fundos de pensão das estatais, e na própria governança dessas empresas, foram ações repletas de qualidade e, por isso, muito bem recebidas pelos agentes econômicos. Claro que o ponto central nesses primeiros dias de governo foi mesmo o controle de gastos, feito através do congelamento real das despesas. Uma medida que deverá resolver, em poucos anos, o enorme déficit nas contas públicas, além de contribuir para reflexões acerca de um estado com menor tamanho e que busque a excelência em suas atribuições.

Sobre essa discussão, e reforçando a necessidade de um gasto público muito melhor do que o que temos, a escola de negócios suíça, IMD, em estudo sobre competitividade divulgado nesta semana, destaca o Brasil no último lugar em eficiência governamental, em um ranking com 61 países, atrás até mesmo da Venezuela, com suas gravíssimas dificuldades econômicas, e da Ucrânia, devastada pela guerra.

Por outro lado, a aprovação do reajuste a várias categorias do funcionalismo público, incluindo o judiciário, ocorrida nesta quarta-feira, bem como uma maior flexibilização nas renegociações das dívidas de estados e municípios, causam certa preocupação, notadamente pelos altos custos envolvidos, além das naturais pressões inflacionárias decorrentes. O aumento de salários dos funcionários totalizará, no mínimo, R$ 52,9 bilhões ao Tesouro, nos próximos três anos. Esse custo poderá ser maior, uma vez que algumas carreiras importantes, como auditores e analistas da Receita Federal, diplomatas e médicos do INSS ficaram de fora dos 14 projetos aprovados na Câmara dos Deputados.

Assim, parece oportuno que o novo governo siga o caminho da austeridade, evitando condescendências que possam causar algum tipo de risco à contenção de suas despesas, uma vez que o descontrole de suas contas causa, como estamos vendo, juros altos e pouca perspectiva de investimentos.