Núcleo de Economia

Informativo da Federação das Indústrias do Estado do Ceará • 22 de abril de 2016 • www.sfiec.org.br

Os desafios do pós-Dilma

A revista britânica The Economist, em sua edição latino-americana desta semana, cuja capa traz uma montagem com o Cristo Redentor segurando um cartaz em que se lê “SOS”, credita o fracasso econômico brasileiro à presidente Dilma Rousseff, mas também à toda classe política que "decepcionou o país por meio de um mix de negligência e corrupção". A publicação entende que a "mancha de corrupção" está espalhada por diversos partidos: "dos 21 deputados sob investigação no caso da Petrobras, 16 votaram pelo impeachment de Rousseff. Cerca de 60% dos congressistas enfrentam acusações de delito criminal."

A Revista ainda opina que um governo Michel Temer poderia trazer "alívio econômico de curto prazo", mas lembra que o PMDB é citado nos escândalos de corrupção e menciona as acusações feitas pela operação Lava Jato contra Eduardo Cunha, presidente da Câmara.

Nessa direção, é importante refletir que o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff reduz o enorme pessimismo de investidores locais e estrangeiros em relação ao futuro da economia. A receptividade do mercado diante da troca de comando pode ser ilustrada por alguns indicadores: bolsa de valores com alta de 38% no ano (índice principal convertido em dólares), risco soberano caindo de 494 para 338 pontos básicos e moeda brasileira com maior desempenho entre as principais divisas, seja em comparação ao dólar ou ao euro. É o caso clássico em que os preços dos ativos se antecipam a uma melhora na economia. Ou seja, o mercado pode estar sinalizando um ciclo positivo que virá alguns meses à frente.

Porém, apesar dessa euforia momentânea, certamente o pós-Dilma será uma construção difícil. Há muitas dúvidas sobre o respaldo político que Temer terá para conduzir as amplas mudanças necessárias para o ajuste fiscal e para a retomada do crescimento e, principalmente porque a herança recebida da administração petista inclui, entre outros, uma máquina pública com graves falhas de gestão e de tamanho excessivo, e uma economia com inflação elevada (mesmo cadente), em recessão profunda, com alto desemprego (e crescente) e com as empresas vivendo sérios problemas de crédito.

O investimento privado, chave para superação da crise, está, portanto, ainda longe de ser devidamente estimulado.