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Palestra proferida pelo Dr. Luiz Esteves Neto, Presidente da FIEC durante o "10 Painel de Gestão de Empresas - A experiência cearense" no Centro de Ciências Administrativas do Curso de Administração de Empresas da Universidade de Fortaleza - UNIFOR.
Fortaleza, 22 de novembro de 1988



Falar sobre administração para uma plateia de administradores não é  tarefa das mais fáceis, mormente quando a matéria é de tão vasto horizonte e tão antiga quanto a própria humanidade.

Na realidade, acredito que o homem já nasceu administrando. talvez esta primazia de ser a primeira ciência do homem, a administração só perca para a economia, a crer em uma piada do professor Milton Friedman, “papa” dos economistas ortodoxos. de acordo com aquele mestre, estavam a conversar um engenheiro, um administrador e um economista, cada um defendendo a ciência de sua especialidade. o engenheiro, buscando reforçar sua posição foi taxativo: a engenharia e a primeira ciência por que deus quando quis criar o homem, construiu primeiro o universo. quem constrói e o engenheiro! de chofre, o administrador rebateu a argumentação do engenheiro lembrando que deus primeiro fez um cronograma para construir o mundo em cinco dias e ai estava o dedo do administrador. bobagem, saltou de lá o economista. antes de deus construir o mundo, o que havia?, perguntou este. o caos, responderam os outros dois. pois bem, ai estava o economista!

A julgar pela situação do Brasil atual e bem possível que aquele economista de Friedman estivesse com a razão!

Apesar do tom jogoso da anedota ela tenta mostrar quão antiga e a arte de administrar. porque, no mínimo, o homem começou administrando seu próprio tempo. assim, ao pensamento cartesiano, “penso, logo existo” poder-se-ia acrescentar, “... e sou administrador”.

Não infiram das minhas palavras a ideia de que estou reduzindo a administração a uma atividade vegetativa. Quero apenas lembrar que, da mesma forma que o homem é, essencialmente, um ser gregário, religioso e político, ele é, também, administrador, pois que, no mínimo, administra sua própria vida.

Temos, portanto, que há uma intuição administrativa em todos nós. mas somente a intuição não basta, quando se trata de administrar. É preciso evoluir-se para o processo científico.

Há pouco falei propositadamente da “arte de administrar”, e agora refiro-me ao processo cientifico. Com isso quero trazer a cena a dicotomia que muitos vem na administração: arte versus ciência.

Não sendo especialista no assunto quero crer que a arte vem da intuição, mas só isso não foi suficiente. Foi preciso a conjugação do melado cientifico para que a administração acompanhasse e as vezes ate determinasse, a evolução da raça humana.

A criação da própria atividade empresarial reflete o somatório de conhecimento em administração que a humanidade vinha acumulando ao longo do período pré-histórico, antiguidade, ate os primórdios da idade media (sec. 12), era do surgimento do mercantilismo e do surgimento da empresa formal, como hoje a conhecemos.

De inicio surgiram as empresas comerciais e as casas bancarias, para as quais se exigia um certo grau de qualificação e determinado nível de conhecimento da arte de administrar no mínimo era necessário o conhecimento dos mercados consumidores e produtores, das rotas marítimas e terrestres, da credibilidade da casa bancária, e do comerciante, de alguma noção de contabilidade. neste estagio, o homem não administrava só o seu próprio tempo, mas o tempo de outros homens, pois as tarefas já eram muitas e dispersas.

Mas, a humanidade continuou a evoluir e passou de um sistema eminentemente artesanal para a era mecânica. chegamos a revolução industrial.

Se a qualificação administrativa do empresário – artesão diminuiu em termos do fazer, a qualificação no administrar a distribuição de bens e tarefas ampliou-se ao se ter o empresário-administrador.

Nesse estágio de qualificação administrativa, o meto do cientifico já começava a suplantar a intuição.

Não nos esqueçamos que, como em qualquer área do conhecimento humano, a qualificação administrativa e um fenômeno temporal, extremamente mutável, sendo função do estado da tecnologia e do desenvolvimento social no qual o administrador se insere.

Mas devemos agora fazer uma reflexão. essa assertiva e uma verdade absoluta? ou seja, a qualificação profissional e causa ou efeito dessa tecnologia e desenvolvimento social? Achamos que ela pode ser causa ou efeito.

Se a qualificação do profissional esta na fronteira do conhecimento da área, ela pode tornar-se causa. se a qualificação está aquém dessa fronteira, temos um agente de um paradigma. E ai tem-se o efeito.

Desta forma, temos que a qualificação é ordinável, temporal e localizada ou setorial.

No campo da administração temos o exemplo clássico da revolução provocada por Frederick W. Taylor e Henri Fayol.

Talvez valesse a pena determo-nos um pouco no processo escolástico utilizado por Frederick W. Taylor para romper o paradigma da época: o seu sistema de tempos & movimentos. Começando da observação empírica do tempo gasto em determinadas tarefas e vendo os desperdícios ai embutidos e aceitando a hipótese de que a racionalidade deve imperar em qualquer atividade humana, Taylor desenvolveu várias experiências de processos produtivos na Bethlehem Steel Works, até conseguir que 146 empregados fizessem o trabalho de 600 operarias, com menos esforço físico, obedecendo apenas a uma sucessão racional de tarefas.

Como podemos verificar, a partir de uma concepção abstrata e utilizando-se do método empírico, foi possível a Taylor estabelecer uma verdadeira revolução no campo administrativo.

Vemos, então, que a qualificação e fruto, lambem, da criatividade abstrata e do que o inglês chama “Learning Bydoing”. o primeiro reflete o conhecimento, a tecnologia, a ciência; o outro, a tenacidade, a constância, o labor.

Sendo fruto do próprio contexto que a cerca, a empresa pode ver a qualificação administrativa sob dois ângulos: o fazer bem e o pensar bem. o fazer bem e fruto da tradição, do treinamento, da constância, enfim. e a qualificação exigida para manter o paradigma. o pensar bem e antever o futuro, e a criação, e a revolução, em suma. qual a empresa prefere ou investe em?

                                                                                                                      

            Obviamente isso depende de vários fatores: creio que mais importante e a pressão do mercado. seguem-se-lhe em importância: o contexto tecnológico em que se situa a empresa; o discernimento do empresário-administrador; a situação econômica, da empresa; o apoio governamental.

            Se o mercado e plenamente favorável, a qualificação exigida pela empresa pode ser a mínima possível. ela pode se contentar em ofertar o seu produto, as vezes sem sequer preocupar-se se o está manufaturando da melhor maneira possível. Esta pode ser a situação de um mercado monopolístico ou oligopolístico. Alguns setores da indústria nacional são bons exemplos desse fenômeno. neste caso, ate a qualificação empresarial pode ser baixíssima.

Se há um concorrente, mesmo que pequeno, a qualificação exigida pela empresa já poderá ser bem maior aquela da situação anterior.

Qualquer que seja a situação de mercado na qual se insere a empresa, se ela e exposta a um contexto tecnológico      que a beneficia, haverá a possibilidade de a empresa exigir um maior grau de qualificação profissional de seu quadro de pessoal para a absorção dos benefícios de tal exposição.

Mas, mesmo aqui e possível que a situação econômico financeira da empresa não permita qualificar melhor sua mão-de-obra. por isso e que, as vezes, o apoio governamental se faz necessário.

No atual estágio da indústria nacional, parece-nos que a qualificação profissional exigida está mais no fazer bem, que no pensar bem.

É claro que tal estagio e fruto de todo o processo de industrialização brasileira, baseado fortemente na reserva de mercado, o que determina uma certa acomodação do empresariado.

Também contribuiu para esse estagio o aparente alheamento da universidade as dificuldades da industria, tendo em contra-partida a resistência, hoje superada, do industrial em conviver com o homem de pensamento, de gabinete ou de laboratório. tudo isso coadjuvado pelo pouco apoio governamental a pesquisa e desenvolvimento.

Mas a hora e chegada para a implementação do pensar bem. o avanço tecnológico atual e de tamanha dinamicidade que a empresa não se pode contentar com o fazer bem. e preciso o concurso da inventividade criadora. assim, necessário se faz o estreito relacionamento do saber com o fazer. da universidade com a indústria.

A hora é chegada para uma completa reformulação do comportamento do empresário e do cientista, ambos voltados para o entendimento mútuo, na busca de melhores padrões de produtividade e de melhores condições de vida para a sociedade.

Urge que a universidade reformule seus currículos acadêmicos para adaptá-los a realidade da industria. e fundamental que a indústria abra suas portas ao saber. que os empresários percam o acanhamento de sua ignorância científica e aceite o apoio do acadêmico, e que o cientista saia de sua redoma para sujar as mãos nas oficinas de produção.

Tendo em vista que ambos os comportamentos, dos empresários e dos acadêmicos, estão arraigados por anos de isolamento, necessário se fez a criação de uma entidade que fosse, pouco a pouco, aparando as arestas no relacionamento desses dois segmentos. Daí nasceu o instituto Euvaldo Lodi, órgão ligado as federações de industrias, mas fortemente apoiado nas universidades.

No caso do ceará, deve-se assinalar a contribuição do IEL e da FIEC para os avanços na busca pelo perfeito entrosamento entre a universidade e a indústria.

         Dessa conjugação de esforços, a industria já recebeu 421 estagiários, supervisionados por professores universitários, propiciando à universidade e a industria uma troca de informações de grande valia para ambos.

Ainda do esforço FIEC/UNIVERSIDADE, estão sendo criados centros de estudos e de desenvolvimento tecnológico, em inúmeros setores industriais, como por exemplo, o CEPEQ – Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Indústria Química do Estado do Ceará.

Vale notar que o esforço de junção UNIVERSIDADE/INDÚSTRIA não se restringe, a universidade do Ceará e a FIEC, haja vista o recente seminário “integração UNIVERSIDADE/INDÚSTRIA: geração e transferência de tecnologia para o norte e nordeste”, o qual contou com o decisivo apoio de todas as universidades e federações de industria das duas regiões.

Resta-nos dizer que o caminho ainda e muito longo. A qualificação profissional necessária a empresa, é preciso que formemos tais profissionais, o que requer um esforço continuado e de todos: empresários, acadêmicos, governo, e profissionais liberais.

Muito obrigado.